Acho que a parte mais difícil em lidar com a morte é saber que nunca mais terá aquilo que morreu. Você não terá outra chance. Não poderá fazer de novo, nem consertar ou tentar outra vez.A primeira vez que lidei com ela foi quando perdi a minha chupeta. Sim, foi uma perda irreparável e nunca mais a vi. Eu devia ter uns quatro ou cinco anos e meu pai há tempos prometia tirá-la de mim. Minha mãe me protegia, mas dizia que o dia em que eu a perdesse, não compraria outra. Aquela seria a última.
Pois bem, estava eu na janela, em um dia de chuva, quando, brincando com os pingos d'água que caíam do telhado, minha chupeta caiu em uma poça de água – sim, isso era na época em que as janelas não tinham grades, mas não sou tão velha assim.
Imediatamente olhei para o meu pai - que era quem estava comigo em casa, e tinha visto toda a cena -, com um olhar de pânico que suplicava para que ele pegasse a chupeta, lavasse e tudo bem... mas ele imediatamente retrucou:
- Nem adianta chorar. Acabou! Essa era a última e ninguém mandou você deixar ela cair lá em baixo.
Pronto. Tudo acabado entre mim e minha chupeta querida. Fiquei lá, olhando ela na água e me perguntando arrependida porque tinha deixado ela cair.
Depois, com o passar do tempo, vi que a perda também se aplicava à pessoas. Minha primeira foi com a minha avó. Estranhei muito. Ainda mais porque junto da perda vinha o ritual bizarro do enterro e a possibilidade de os mortos puxarem o seu pé. E a ideia de que nunca mais veria minha avozinha querida, de que não iria mais à casa dela para vê-la e que ela havia se transformado em um ser mau a ponto de puxar o pé da própria neta de noite não foi legal.
Mais adiante ainda você aprende que a ideia da morte e da inconstância te ronda o tempo todo. É assim quando você tem que esquecer alguém, desistir de um projeto...
Já me acostumei com a morte... Agora, tento apenas me acostumar com a ideia da eutanásia, que é quando você tem que matar algo que você até gosta muito, mas sabe que não vai vingar, que vai trazer sofrimento... Daí, conclui-se que é melhor acabar logo. Mas dói demais... Cortar a própria carne em nome de uma dor menor...
Mas vai passar... quem consegue esquecer da chupeta, o primeiro amor da vida de uma pessoa, consegue esquecer (quase)todos os outros...rs
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